quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Nós e a expressão escrita.


Com a mesma métrica e os mesmo esquema rimático, saiu-nos isto na nossa aula:

Camões afirma logo, claramente,
Cumprindo a habitual Proposição
Que quer cantar a Portuguesa gente,
Exemplo da humana condição.
E porque quer um verso diferente
Auxílio pede, em forte Invocação
Às Tágides que acordam o fulgor
Preciso no poético labor.

A obra é dedicada ao valeroso
Rei que este povo dirigia
E que, embora novo, valioso
Tributo do poeta merecia -
Por ser do Luso reino tão famoso
A luminosa mão, o certo guia:
A Dedicatória homenageia
O Rei e o seu povo a mesma ideia!

Os barcos navegando lentamente
nas águas de tempos já passados
são como os nossos sonhos, no presente,
que anseiam por destinos melhorados.
A vida é um mar à nossa frente
Um mar que deve ser atravessado
Então, vamos em frente navegando
de mãos dadas num futuro sonhando.

Os Lusíadas em Numerais


A obra Os Lusíadas, editada pela primeira vez em 1572, é uma sofisticada construção literária que impressiona qualquer estudioso. Vale a pena recordar que esta epopeia está dividida em 10 Cantos e que, em média, cada Canto é constituído por 110 estâncias ou estrofes. O Canto mais longo é o X com 156 estâncias.

Se tivermos em conta que cada estância tem 8 versos e que, no total, a obra em 1102 estâncias, Camões escreveu afinal 8896 versos. Cada um desses versos tem 10 sílabas métricas (verso heróico). É importante notar que 773 estâncias das 1102 referidas, dizem respeito à acção principal (viagem da armada de Gama e a intervenção dos deuses do Olimpo).

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

E foi assim que começámos as nossas aulas.


Como motivação para a leitura e análise da grande epopeia camoniana, a nossa professora mostrou-nos o filme Camões, de José Leitão de Barros. É um filme já bastante antigo, de 1946, e, obviamente, a preto e branco. A película está visivelmente deteriorada e a passagem para formato digital não fez com que o filme ganhasse grande qualidade, muito pelo contrário.


Porém, em 1946 este filme português concorreu à primeira edição do prestigiado Festival de Cannes.

Ficaremos a aguardar que outros realizadores portugueses ou estrangeiros se interessem pela vida e obra de Camões e de outros grandes escritores da Língua Portuguesa e que possam fazer mais filmes. 


Remakes precisam-se!

O Título do Poema


Não parece haver qualquer dúvida que Luís de Camões foi buscar o título do poema épico a André de Resende, referido já em «Vicentius Levita et Martyr», publicado em 1545. Numa carta escrita a Pedro Sanches em 1561, André de Resende volta a usar a palavra e a explicar como surge o nome:

«A Luso, unde Lusitania dicta est, Lusiadas adpellavimus Lusitanos et a Lysa Lysiadas, sicut a Aenea Aeneadas dixit Virgilius.»*


*(De Luso, termo a partir do qual se deu nome à Lusitânia, chamámos Lusíadas aos Lusitanos, e de Lysa Lysíadas, tal como Virgílio criou Aeneadae a partir de Aeneas) Trad. livre


O que André de Resende pretendeu fazer foi uma formação de palavras semelhante às de Virgílio.


Então: Eneias - Eneiadas (Eneida)
          Luso (da Lusitânia) - Lusíadas
          Lysa - Lysíadas

Porquê estudar Camões?


Camões continua vivo, não apenas onde se fala e escreve a língua que ninguém mais do que ele enriqueceu e ilustrou, como nos países estrangeiros onde, sejam quais forem as reservas feitas à densidade humana ou ao valor literário da sua obra, é admirado como dos poetas que melhor resistirão às flutuações do gosto e da transitoriedade das culturas.


Hernani Cidade, Camões O Épico II Vol., p.14

Por muito que os alunos do 3º Ciclo tenham dificuldade em ler Os Lusíadas, não se pode negar que este livro se trata de uma obra arquitectónica inigualável.

São 8896 versos escritos sempre com os mesmo esquema rimático, a mesma acentação silábica e a mesma métrica. Isto é obra!